Este desnível irá ter muitas consequências para os joelhos, postura, forma de caminhar e de correr, problemas de instabilidade articular, pronação, apenas para começar. Lembro que o pé humano tem cerca de 8 milhões de anos de evolução com o aparecimento dos primeiros hominideos, o bipedismo e a biomecânica da corrida e da marcha dependem de uma utilização dos vários mecanismos fisiológicos como o windlass, a enorme sensibilidade ou anatómicos como a diferença de largura entre os metatarsos e o calcâneo ou a curvatura longitudinal do pé. A marcha e a corrida com impacto anterior, metatarso-falângico foi o que permitiu o nomadismo pré-neolitico que o Homo Sapiens Sapiens usufruiu durante cerca de 180.000 anos. O sedentarismo só existe há 10.000 anos após a revolução neolítica pela prática da agricultura.
Na verdade é muito mais que isso a zona média e anterior do pé tem um conjunto de pequenos ossos, ligamentos e músculos que permitem uma resposta impulsiva, algo que não acontece na zona do calcâneo. Por isso parece surpreendente que os sapatos com desnível, com salto ou tacão sejam os mais populares ao propiciarem uma corrida posterior a bater com o calcâneo no chão. Amassar borracha numa nulidade biomecânica. Por absurdo seria como colocar os pneus do seu automóvel na grelha frontal e no porta bagagens, não é para isso que servem, não há jantes, não existem eixos, nem diferenciais para transmitir movimento. É a mesma coisa que correr com impacto posterior, todos os ossos, músculos, tecido conjuntivo dos seus pés não estão desenvolvidos para esse fim.
O ideal será mesmo usar o seu pé contudo se tiver 25 anos sofreu 23 anos de condicionamento, se tiver 60 apenas tem 58 anos de condicionamento, o seu corpo já sofreu inúmeras alterações anatómicas e fisiológicas, se introduzirmos distinções de género e pensarmos numa senhora provavelmente o encurtamento do tendão de Aquiles pela utilização de saltos ainda será maior. Nunca é tarde para mudar, e os sapatos minimalistas principalmente para correr precisam de tempo de adaptação, na marcha menos. Há outros factores como a obesidade, condição física, artroses, entre outros, que aconselham prudência com este tipo de sapato. O que importa reter é que este tipo de sapatos ajudam a desenvolver uma passada anterior: aquela que é mais correta para a nossa biomecánica. O sapato minimalista tem uma espessura de sola constante, com cerca de 2-6 milímetros, um peso entre os 100-180 gramas é flexível e espaçoso para os dedos.